segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Salatiel







fotos: Alexandre Lourenção
Quadrinhos
A volta de Salatiel de Holanda
Lídia Basoli


O nome é forte e imponente. A voz, a altura e os cabelos e barba branca também. E a arte então, nem se fala. Salatiel de Holanda, um dos grandes nomes da ilustração brasileira, está morando em Marília desde 2005, trabalhando na editora Brasil Cultural.
Aos 63 anos, o artista ainda não utiliza computador para desenhar. “Não me adaptei”, ele fala, e se diz espantado e empolgado com a nova geração de quadrinistas. “A gente não era tão esperto assim na década de 1970. Hoje as pessoas se reúnem em grupos, coletivos e conseguem uma boa produção, mesmo não trabalhando apenas na área de quadrinhos. Isso realmente é muito bacana”, diz.
A grande paixão do artista são os quadrinhos autorais, de terror e guerra principalmente. Salatiel serviu dois anos na aeronaútica, de 1966 a 68 e dalí tirou grande inspiração para o seu trabalho. “Eu gosto muito de desenhar aviões de guerra porque há muitos detalhes envolvidos para serem retratados. É meu grande barato”.
História
Aos 10 anos de idade, Salatiel ainda em Recife começou a ler os primeiros gibis, escondido no caso. “Na época, década de 50, ler gibis, histórias em quadrinhos era considerado uma heresia, mas eu não conseguia ficar longe dessa arte. Meu pai me proibia, mas eu sempre dava um jeito de ler as histórias”, conta.
Salatiel começou a perceber que ia bem nas aulas de desenho da escola, as notas melhores eram em educação artísticas “mas ia bem em todas as matérias” como faz questão de frisar.
E quando foi crescendo, a paixão pelas histórias em quadrinhos continuava. “Na minha adolescência eu comprava mensalmente Battler Britton, uma revista que trazia as aventuras de um piloto da R.A.F. (Toyal Air Force), Revista Combate da editora Taika, onde trabalhei mais tarde, e os Combates coloridos da editora Cruzeiro. Mas também comprava outros gibis como Daniel Boone, Flecha Ligeira e Rock Lan”, diz.
E tudo que o artista olhava, se tornavam histórias, muitas vezes ambientadas em estilos westerns. A qualidade do trabalho foi ficando cada vez melhor, e na década de 1970, Salatiel se mudou para São Paulo em busca de melhores condições de trabalhos.
“Juntei meus originais e viajei até São Paulo. Procurei as editoras na época e consegui trabalhar no Stúdio do [Ignácio] Justo. No primeiro mês já estava trabalhando com mais desenhistas”, relembra
Sobre o primeiro trabalho publicado, Salatiel conta com gosto. “Meu primeiro trabalho publicado foi ‘Os Samurais’ para a revista Combate da Editora Taika, que também era a primeira editora para qual eu trabalhava. Desenhar para a revista Combate foi para mim uma experiência e tanto. Tinha muito prazer de produzir as páginas mensais. Se não tive acabado a publicação da revista, estaria desenhando até os dias de hoje”.
Foi em São Paulo que Salatiel se especializou, não apenas na arte, mas conhecendo artistas de peso. “Lá eu aprendi muito e trabalhei com os maiores nomes da ilustração no Brasil como Benício, Getúlio Delfim, Jaime Cortês e Flávio Colin que foram os meus mestres, com quem eu discutia e trocava ideias”, relembra.
Mas a ilustração foi tomando o espaço das histórias em quadrinhos autorais. “Faz muito tempo que eu não desenho minhas histórias, mas acredito que quando me aposentar vou conseguir fazer isso”, diz cheio de planos.
Fanático também por filmes de guerra, Salatiel fez story boards, sequências de imagens para produtoras de cinema e publicidade para sobreviver trabalhando, ainda assim, com ilustração. “Foram muitas as dificuldades que enfrentei até hoje. Tive que largar os quadrinhos para me dedicar às ilustrações publicitárias. Comecei desenhando story-boards na agência Alcantara Machado. Foi um período duro para me adaptar ao estilo de desenho. Por fim, fiquei longos anos na agência de propaganda”.
Convidado a participar de um evento cultural em Marília na semana passada, Salatiel foi presenteado com vários quadrinhos da nova safra brasileira de ilustradores, quadrinistas e roteiristas. Se ele gostou?
“Rapaz, todo dia quando chego em casa da editora, leio um dos materiais e fico feliz de perceber como os quadrinhos brasileiros estão amadurecidos. Isso me anima a voltar a desenhar e pensar essa área que eu estou distante”, fala o artista.
Seu nome está entre os melhores ilustradores/quadrinhistas do Brasil. Em 2008, Salatiel recebeu o troféu Ângelo Agostini como Mestre dos quadrinhos nacionais, no 24º ano da premiação.
“Para mim, voltar a fazer quadrinhos, fazer meus desenhos de aviões de guerra e ilustrações será voltar a viver. Com certeza, conseguirei isso em breve”, afirma.
Alguém duvida do Mestre? Salatiel de Holanda está voltando.

*Colaboração: Sergio Chaves – Revista Café Espacial
www.cafeespacial.com

Informações: http://salatieldeholanda.blogspot.com/ . Editora Brasil Cultural. Avenida República, 1514. Telefones: (14) 3454-2123 e 3432-1567
matéria feita em dezembro de 2009



2 comentários:

  1. Olá, Lídia.

    Bacana estrear esse blog do blogspot. Ele é melhor possibilitando mais coisas.
    parabérns pelo excelente texto sobre o mestre Salatiel do Serginho.
    Parabéns a ambos como sempre amor às boas coisas e sensibilidade extremada!
    Beijos.
    Sucesso em 2010!!

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  2. Quando iniciei a carreira, aos 15 anos, tive o privilégio de trabalhar ao lado de Salatiel, que anos mais tarde veio trabalhar comigo em meu estudio. Grande mestre , um dos maiores ilustradores do Brasil.
    Você sabe se ele continua em Marilia?

    Besos

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