segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O alfaite artista




fotos: Alexandre Lourenção
Arte
O alfaiate que gosta de pintar
Lídia Basoli


“Depois da pintura, minha maior paixão são os livros, mas a minha profissão é alfaite”. O relato é do mariliense Juraci Néris que desde criança foi descobrindo a paixão pela pintura e pela arte. “Eu ia bem nas aulas de desenho da escola. Contudo, o que me levou a pintar foi quando um dia vi um quadro do Van Gogh, o auto retrato dele, na extinta revista Manchete. Aquilo mexeu muito comigo”, conta Néris.
O choque foi tão grande que a partir disso, olhar de Néris sobre o mundo ficou mais apurado e o gosto pela arte e principalmente, pela pintura tomou forma. “Foi assim que resolvi ir para o lado da pintura, mas sem deixar a alfaiataria de lado, que já era presente na minha vida”, conta.
Nos idos da década de 50, o que se priorizava na vida de uma pessoa era ter uma profissão. “Eu aprendi a alfaiataria criança ainda, por incentivo do meu pai e realmente eu gosto do que faço, é meu ganha-pão. Mas minha paixão mesmo é a pintura”, ressalta.
Em 1964, Néris mudou para São Paulo em busca de um aprofundamento na área das artes e lá, autodidata, começou a estudar e conhecer mais sobre pintura. “Eu tive em São Paulo uma grande experiência de vida, aprendi muito e quando voltei para Marília na década de 1980, eu arrisquei levar as minhas duas artes juntos: a pintura e a alfaiataria”, diz.
O artista fez cursos com o mestre Bráz Alécio e se aprimorou em pintar paisagens e rostos humanos, que é o seu gosto pessoal. “Eu gosto da pintura metafísica, aquela que vai além do que o apreciador da arte está vendo, contudo pintar rostos também é uma grande realização”, afirma o artista que gosta de retratar Jesus Cristo. “É uma fixação”, observa.
É certo que profissões como marceneiro, carpinteiro, arquiteto, jornalista e tantas outras, incluindo a alfaiataria exigem não apenas uma visão do mundo em especial, mas entender de arte para fazer algo que toque, que sensiblize a outra pessoa.
Com o alfaiate/artista Néris, não é diferente. Para produzir uma roupa, uma peça é necessário conhecer o outro, saber quem ele é e buscar nele também uma resposta. Na verdade, para Néris, é quase um trabalho de engenharia.
“Eu preciso fazer uma roupa que esteja de acordo com cada corpo, entendendo o estilo do outro, é engenhoso. Com a pintura é mesma coisa, pois tenho que sentir, imaginar o que o outro quer ver, conhecer meus pensamentos e o que vou pintar naquele espaço de tela”, filosofa.
Cinema e arte
Néris também caminha por outras praias dentro da arte. Foi pintor de painéis de cinema do extinto Cine Peduti durante 12 anos. “Ali eu aprendi bastante coisa, porque tive que saber o que é fazer letra, conhecer o filme e o público que vai assistir. Foi uma grande escola”, relata. Os painéis pintados por Néris já não existem mais, contudo os marilienses que têm mais de 30 anos e frequentaram o Cine Peduti com certeza se recordam das grandes telas pintadas como os filmes do Robocop e Batman. “Foram os trabalhos que eu mais gostei de fazer”, conta.
A arte e a pesquisa são latentes no artista. Além da alfaitaria, da pintura de telas e retratos, Néris gosta também de fazer caricaturas e estava feliz por ter adiquirido um livro de charges. “Acredito que todas as artes têm muito a contribuir para os artistas, sejam eles da área que for”, afirma em meio a uma pasta cheia de recortes que o artista utiliza como referência visual.
Para os que querem conhecer um pouco mais do artista Néris, ele afirma que ano que vem volta a dar aulas de pintura e desenho. Se ele se considera um pintor? “Eu gosto de pintar, de rabiscar. Mas pintores mesmo, de verdade são os outros, Van Gogh, artistas do Renascimento que nas pinturas vão além da imagem. Parece mais do que uma foto o que fazem. Eu só gosto de pintar. Só isso” finaliza, humildemente.

Informações: Néris Alfaiate. Rua XV de novembro, 433 . Telefone: (14) 9121-1972.
matéria feita em dezembro de 2009

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