sábado, 6 de fevereiro de 2010

Cinema



















fotos: Alexandre Lourenção e Paulo Cansini

Magia
Sala de projeção é a alma do cinema
Lídia Basoli


O olhar de Totó para o projecionista Alfredo, no filme “Cinema Paradiso”, o clássico de 1988 do diretor Giuseppe Tornatore, explica o fascínio que o cinema exerce sobre as pessoas.
A sala de cinema é muito mais que as poltronas e a tela imponente frente ao espectador. Quando as luzes da sala se apagam, outra, interna se ascende: a da cabine de projeção, caixinha mágica que combina movimentos, imagens, som e muita técnica.
E é lá, em um trabalho solitário e muitas vezes exaustivo, que funcionários se revezam para fazer o show acontecer, assistindo um filme centenas de vezes, decorando falas, seqüências, ou mesmo atentando ao barulho do enorme carrossel que gira com um rolo imenso de filmes.
“Nós fazemos parte do espetáculo, arrumamos a estrutura para que a plateia assista com tranqüilidade aos filmes. É um trabalho solitário, mas ao mesmo tempo, prazeroso”, conta Adolfo Gomes, 22 anos, que trabalha nas salas do Cine Esmeralda em Marília.
“Eu não achei que fosse trabalhar como operador cinematográfico, mandei meu currículo e me chamaram. E eu gosto e muito do que eu faço porque é um tanto quanto mecânico, mas ao mesmo tempo humano porque lidamos com pessoas, apesar de operar uma máquina”, conta.
Cada uma das máquinas gigantes traz consigo uma história, que necessita, além de atenção, muita paciência e habilidade. Não são apenas máquinas, são luzes que projetam histórias de sonhos e risos.
Para que a máquina funcione perfeitamente bem, há necessidade de prestar atenção em cada parte de toda aquela estrutura, no tempo, na luz, na lente, onde o filme deve ser colocado e tantos outros minuciosos detalhes que só mesmo quem trabalha no ramo entende.
A cabine
No Cine Esmeralda, Adolfo e Claudinei se revezam nas três salas de cinema orientados por João Otávio, operador cinematográfico desde a época do Cine Peduti. “Foi lá que eu aprendi basicamente tudo o que eu sei, desde ‘colar’ os filmes, até rebubinar toda a película. E acredite: essa profissão vicia porque o processo não é apenas mecânico, é também físico e químico, mexe muito com a gente porque temos que ficar atentos a detalhes”, conta.
Outra cena do filme “Cinema Paradiso” pode exemplificar a fala de João: Alfredo exibe o filme para a plateia do cinema enquanto uma pequena aglomeração fora da sala pede que o filme não seja tirado de cartaz. Num passe de mágica, Alfredo mostra a Totó que é possível sim, através da técnica exibir o filme em outros espaços e projeta o filme também na rua, para a alegria do público. Aí a magia do cinema se torna ainda mais real.
“Eu ajudava a montar a cabine, o filme e tudo o que precisasse e ficava observando as pessoas sentarem naquelas 800 poltronas do Peduti, até encher o espaço de gente, foi uma época maravilhosa”, lembra João.
E quem lhe ensinou tudo isso, João? “Foi o senhor Carlito, que era operador cinematográfico desde a época do Cine Marília. Com certeza ele terá muita história para contar”, afirma.
José Carlos Pereira da Silva, 64 anos, fala pouco e baixo. Mas contou histórias interessantíssimas sobre a função de projetar filmes, alimentando ainda mais a ideia de que, sim, essa é uma profissão mágica e muito, muito solitária.
“Eu não tinha férias e muito menos tempo para namorar, então o jeito era trabalhar duro, e nos raros momentos de folga, aproveitar o descanso”, fala.
Vendo filme? “Não não. (risos) Isso eu já fazia muito, aproveitava dormindo ou saindo com os amigos”, relembra.
Antes os filmes eram exibidos em celulóide, o que acarretava grande risco de queimar. Hoje, em poliéster, os filmes chegam a sala de projeção em partes e são bem resistentes, diferentes de uma época em que a máquina de projeção era a carvão. “A gente corria um grande risco sendo projecionista, porque o filme ao esquentar poderia pegar fogo, o que raramente aconteceu, mas que era perigoso, era”, lembra Carlitos.
Marília está no centro da história do cinema do país. Se a própria história do cinema tem pouco mais de 100 anos, em Marília, existe em funcionamento, ainda que aos trancos, o primeiro Clube de Cinema do Brasil.
Outros sete cinemas existiram na cidade e desses, três fizeram história: o Cine Teatro São Luís, o Cine Marília e o extinto Cine Peduti. Para entender como esses cinemas funcionavam e a importância deles para a cidade, é necessário compreender que as cabines de projeções e dessa forma, seus projecionistas, foram peças importantes para manter essa magia na tela, na alma e nos corações dos amantes da sétima arte.
Contudo, os espaços hoje são diferentes; salas menores em shoppings formam o cenário do audiovisual em Marília. E o saudosismo? Existe?
O senhor Carlito garante que não. “Os tempos mudam e precisamos acompanhar o que tem acontecido na nossa era. Foi uma época muito boa enquanto trabalhei com isso, mas temos que entender que o cinema sempre será cinema e os projecionistas, pode perceber, continuam solitários levando luz à tela e ao coração das pessoas”.

*Agradecimento: Mauro Loureiro, responsável pelo Cine Esmeralda

Teatro



Teatro
Cia Teatral Linguagem Artística busca parcerias
Lídia Basoli


“Estamos na luta há 10 anos, que foi quando começamos aqui em Marília. Sabemos que para fazer teatro é necessário dar a cara a tapa, mas acredito que com parcerias ficaria mais fácil de fazer um bom trabalho”.
A frase é do ator, diretor e produtor teatral Emerson Zélio, que busca apoio para a sua companhia de teatro, a “Cia Teatral Linguagem Artística”. “Sabemos que fazemos um bom trabalho, mas eu acredito que a cultura e em se tratando aqui, o teatro, poderiam ser mais valorizados na nossa cidade, buscando formas de apoio, parecerias e patrocínio para que consigamos continuar realizando espetáculos”, ressalta o ator.
Para isso, Emerson cita a falta que o Teatro Municipal tem feito e também a necessidade de se pensar a cultura amplamente. “É diferente apresentar uma peça no Municipal, porque isso valoriza ainda mais nosso espetáculo, reafirmando o nome de Marília na cena artística, porque não dizer, nacional. Por isso, políticas culturais de fomento seriam extremamente necessárias”, ressalta.
Além disso, Emerson cita em números o que os espetáculos apresentados podem render. “Veja bem, temos uma média de 100 apresentações por ano. Se temos uma média de 300 pessoas por espetáculo, porque apresentamos muito também na região de Marília, é algo em torno de 30 mil espectadores anualmente. As empresas devem se conscientizar disso, pensar numa questão de que o apoio não é apenas em fazer panfletos e cartazes, mas sim associar seu nome a bons projetos”, fala.
O grupo tem sua sede no teatro do Seama há algum tempo, de onde conseguem tirar o sustento para fazer cada vez mais peças diferenciadas. “Nós priorizamos nossas autorias e também a adaptação de autores consagrados, como (Ariano) Suassuna e (João) Guimarães Rosa e somos extremamente gratos ao que o Seama tem feito por nós durante todo esse tempo. Se não fosse o teatro de lá, com certeza teríamos passado mais dificuldades”, conta Emerson.
Pela companhia já passaram diversos atores, e agora, em três artistas, eles buscam resgatar e valorizar o teatro na cidade, que nesses 10 anos de trabalho, deveria ser reconhecido de outra forma, de acordo com o próprio Emerson.
“É claro que deveríamos ter um apoio maior do poder público, viabilizar políticas culturais de qualidade também para o teatro, para os grupos que têm surgido em Marília, mesmo porque a divulgação em uma peça traz benefícios não apenas para quem apóia, mas também e principalmente para aquele que assiste”, afirma.
História
Nesses 10 anos de estrada a Companhia Teatral Linguagem Artística já apresentou 30 montagens para o mais variado público, desde as crianças até adultos, passando por montagens marcantes como a de Plínio Marcos “Dois Perdidos Numa Noite Suja” até “Sítio do Pica Pau Amarelo”.
“O que nós buscamos é diversificação, lançar a linguagem teatral no olhar, na sensibilidade do outro cada vez mais, pois o que fica de melhor é a imaginação, as possibilidades do criar, ousar e pensar transmitidas pelo teatro”, fala Emerson.
E não poderia ser diferente. O próprio Emerson, que fundou a companhia, se formou pelo curso livre CPT do Sesc São Paulo e aprendeu muita coisa não apenas nas escolas de teatro, mas assistindo peças e aprendendo mais a cada dia.
Natural de Terra Boa, próximo a Maringá, veio para Marília quando era criança e busca, ainda hoje, retribuir para a cidade tudo o que aprendeu na área teatral. “Para mim o reconhecimento do público é o que paga o trabalho do ator e várias crianças cresceram nesses 10 anos vendo nossas peças. Eu vou continuar fazendo o meu trabalho da melhor forma possível, mas acho que qualquer forma de apoio e parceria iria enriquecer e muito os projetos que temos em mente, levando o nome de Marília tanto para a região também quanto para outras partes de São Paulo e do Brasil”, acrescentou o ator.

Box
Quem quiser ser parceiro ou apoiar e conhecer os projetos da Cia Linguagem Artística deve entrar em contato com Emerson Zélio pelo email: emersonzelio@zipmail.com ou pelos telefones: (14) 9797-2368 ou (14) 3422-2118. Apóiem, divulguem e participem do Teatro!

Artes









fotos: Alexandre Lourenção
Realização
Vila das Artes: um espaço para criar
Lídia Basoli


Imagine um lugar todo colorido, cheio de flores, desenhos, cores e tinta. Agora junte a esse espaço várias pessoas querendo criar, usando a arte para pintar, esculpir e se emocionar. Imaginou?
Agora acrescente muito esforço, dedicação e amor. Pronto: aí estão os ingredientes do espaço Vila das Artes, uma casa que poderia ser chamada de “casa dos sonhos” de qualquer artista plástico.
A responsável por realizar esse “sonho” é a artista plástica Patrícia Muller, que insiste em dizer que, “se não fossem todas as pessoas que estão aqui, fazendo nossos cursos, minha família e amigos, esse sonho não teria virado realidade”.
É, sonhar junto é bem melhor. E o sonho deu certo porque cada vez mais crianças, adultos e a melhor idade reúnem-se na Vila das Artes para fazer arte! E o que é melhor: com muita alegria.
O espaço Vila das Artes existe há quatro anos, mas a ideia surgiu há oito, quando Patrícia começou a dar aulas em casa para as crianças da rua em que morava. “Foi acontecendo assim, meio que de repente e então eu percebi que o espaço que eu tinha, havia ficado pequeno. Daí eu resolvi acreditar nesse sonho e construir a Vila”, conta.
E mais pessoas acreditaram também. Na Vila das Artes há espaço para cursos de cerâmica, pintura em tela e madeira, mosaico, papietagem, feltro, patchwork, tecido e boneca.
O curso de Patchwork, por exemplo, é um caso a parte. Pessoas de todas as idades se reúnem orientadas pelas professoras Maristela Igawa e Maristela Oioli, transformando as ideias e a criatividade em algo paupável e além de tudo, muito bonito.
“Aqui é uma espécie de terapia, porque a gente se resolve e também faz amigos, além disso fazemos nossos lanches e conversamos muito. É um espaço muito agradável”, ressalta Eneida Genta de Oliveira Melo, de 62 anos que estava acompanhada da netinha Luísa, que também faz aulas.
Para Eneida, que também faz parte o “Clubinho”, uma espécie de grupo que se auto orienta nas aulas, o mais legal é perceber que tudo se transforma, da ideia ao resultado. “É muito emocionante perceber que podemos modificar, trazer algo novo e sempre tão belo e tão nosso, a gente sai daqui fortalecido”, diz.
As aulas de cerâmica também encantam a quem conhece o espaço, pois para as alunas, é uma realização pessoal trabalhar com argila e com a massa. “Há muito tempo eu queria fazer isso e não conseguia e agora percebo que trabalhar com argila é uma terapia sem limite porque é nosso, é a gente que faz e nos reconhecemos ali”, afirma a psicóloga Eliana Kellman, uma das alunas que é complementada pela dona de casa Vera Pellin. “É muito legal porque quando damos um presente a alguém como esse de argila é nós mesmos que fizemos, é nosso trabalho e daí o presente fica mais bonito ainda”, emenda.
A aposentada Fátima Borba ressalta a importância da vila. “Os meus netos vieram fazer cursos aqui, então eu conheci o espaço e me encantei na aula de cerâmica. É uma troca de energia muito boa entre nós, de experiências e amizade. É um compromisso que eu tenho comigo mesma, de vir e me sentir bem”.
E no curso de cerâmica em argila, as alunas têm um lema: “aqui defeito é efeito”, dizem em coro dando risada. Definitivamente, um lugar alegre e cheio de energia positiva.
“Aqui as pessoas entrem e se sentem em casa, ou melhor, na casa dos sonhos porque é tudo feito com muito amor. Então os cursos começam e novas famílias se formam. Isso não tem preço que pague”, finaliza Patrícia.

Informações: Vila das Artes. Rua Atílio Gomes de Mello, 64. Bairro Fragata. Telefone: (14) 3454-7345 http://mariliabaunilhaepatch.blogspot.com/