segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Salatiel







fotos: Alexandre Lourenção
Quadrinhos
A volta de Salatiel de Holanda
Lídia Basoli


O nome é forte e imponente. A voz, a altura e os cabelos e barba branca também. E a arte então, nem se fala. Salatiel de Holanda, um dos grandes nomes da ilustração brasileira, está morando em Marília desde 2005, trabalhando na editora Brasil Cultural.
Aos 63 anos, o artista ainda não utiliza computador para desenhar. “Não me adaptei”, ele fala, e se diz espantado e empolgado com a nova geração de quadrinistas. “A gente não era tão esperto assim na década de 1970. Hoje as pessoas se reúnem em grupos, coletivos e conseguem uma boa produção, mesmo não trabalhando apenas na área de quadrinhos. Isso realmente é muito bacana”, diz.
A grande paixão do artista são os quadrinhos autorais, de terror e guerra principalmente. Salatiel serviu dois anos na aeronaútica, de 1966 a 68 e dalí tirou grande inspiração para o seu trabalho. “Eu gosto muito de desenhar aviões de guerra porque há muitos detalhes envolvidos para serem retratados. É meu grande barato”.
História
Aos 10 anos de idade, Salatiel ainda em Recife começou a ler os primeiros gibis, escondido no caso. “Na época, década de 50, ler gibis, histórias em quadrinhos era considerado uma heresia, mas eu não conseguia ficar longe dessa arte. Meu pai me proibia, mas eu sempre dava um jeito de ler as histórias”, conta.
Salatiel começou a perceber que ia bem nas aulas de desenho da escola, as notas melhores eram em educação artísticas “mas ia bem em todas as matérias” como faz questão de frisar.
E quando foi crescendo, a paixão pelas histórias em quadrinhos continuava. “Na minha adolescência eu comprava mensalmente Battler Britton, uma revista que trazia as aventuras de um piloto da R.A.F. (Toyal Air Force), Revista Combate da editora Taika, onde trabalhei mais tarde, e os Combates coloridos da editora Cruzeiro. Mas também comprava outros gibis como Daniel Boone, Flecha Ligeira e Rock Lan”, diz.
E tudo que o artista olhava, se tornavam histórias, muitas vezes ambientadas em estilos westerns. A qualidade do trabalho foi ficando cada vez melhor, e na década de 1970, Salatiel se mudou para São Paulo em busca de melhores condições de trabalhos.
“Juntei meus originais e viajei até São Paulo. Procurei as editoras na época e consegui trabalhar no Stúdio do [Ignácio] Justo. No primeiro mês já estava trabalhando com mais desenhistas”, relembra
Sobre o primeiro trabalho publicado, Salatiel conta com gosto. “Meu primeiro trabalho publicado foi ‘Os Samurais’ para a revista Combate da Editora Taika, que também era a primeira editora para qual eu trabalhava. Desenhar para a revista Combate foi para mim uma experiência e tanto. Tinha muito prazer de produzir as páginas mensais. Se não tive acabado a publicação da revista, estaria desenhando até os dias de hoje”.
Foi em São Paulo que Salatiel se especializou, não apenas na arte, mas conhecendo artistas de peso. “Lá eu aprendi muito e trabalhei com os maiores nomes da ilustração no Brasil como Benício, Getúlio Delfim, Jaime Cortês e Flávio Colin que foram os meus mestres, com quem eu discutia e trocava ideias”, relembra.
Mas a ilustração foi tomando o espaço das histórias em quadrinhos autorais. “Faz muito tempo que eu não desenho minhas histórias, mas acredito que quando me aposentar vou conseguir fazer isso”, diz cheio de planos.
Fanático também por filmes de guerra, Salatiel fez story boards, sequências de imagens para produtoras de cinema e publicidade para sobreviver trabalhando, ainda assim, com ilustração. “Foram muitas as dificuldades que enfrentei até hoje. Tive que largar os quadrinhos para me dedicar às ilustrações publicitárias. Comecei desenhando story-boards na agência Alcantara Machado. Foi um período duro para me adaptar ao estilo de desenho. Por fim, fiquei longos anos na agência de propaganda”.
Convidado a participar de um evento cultural em Marília na semana passada, Salatiel foi presenteado com vários quadrinhos da nova safra brasileira de ilustradores, quadrinistas e roteiristas. Se ele gostou?
“Rapaz, todo dia quando chego em casa da editora, leio um dos materiais e fico feliz de perceber como os quadrinhos brasileiros estão amadurecidos. Isso me anima a voltar a desenhar e pensar essa área que eu estou distante”, fala o artista.
Seu nome está entre os melhores ilustradores/quadrinhistas do Brasil. Em 2008, Salatiel recebeu o troféu Ângelo Agostini como Mestre dos quadrinhos nacionais, no 24º ano da premiação.
“Para mim, voltar a fazer quadrinhos, fazer meus desenhos de aviões de guerra e ilustrações será voltar a viver. Com certeza, conseguirei isso em breve”, afirma.
Alguém duvida do Mestre? Salatiel de Holanda está voltando.

*Colaboração: Sergio Chaves – Revista Café Espacial
www.cafeespacial.com

Informações: http://salatieldeholanda.blogspot.com/ . Editora Brasil Cultural. Avenida República, 1514. Telefones: (14) 3454-2123 e 3432-1567
matéria feita em dezembro de 2009



O alfaite artista




fotos: Alexandre Lourenção
Arte
O alfaiate que gosta de pintar
Lídia Basoli


“Depois da pintura, minha maior paixão são os livros, mas a minha profissão é alfaite”. O relato é do mariliense Juraci Néris que desde criança foi descobrindo a paixão pela pintura e pela arte. “Eu ia bem nas aulas de desenho da escola. Contudo, o que me levou a pintar foi quando um dia vi um quadro do Van Gogh, o auto retrato dele, na extinta revista Manchete. Aquilo mexeu muito comigo”, conta Néris.
O choque foi tão grande que a partir disso, olhar de Néris sobre o mundo ficou mais apurado e o gosto pela arte e principalmente, pela pintura tomou forma. “Foi assim que resolvi ir para o lado da pintura, mas sem deixar a alfaiataria de lado, que já era presente na minha vida”, conta.
Nos idos da década de 50, o que se priorizava na vida de uma pessoa era ter uma profissão. “Eu aprendi a alfaiataria criança ainda, por incentivo do meu pai e realmente eu gosto do que faço, é meu ganha-pão. Mas minha paixão mesmo é a pintura”, ressalta.
Em 1964, Néris mudou para São Paulo em busca de um aprofundamento na área das artes e lá, autodidata, começou a estudar e conhecer mais sobre pintura. “Eu tive em São Paulo uma grande experiência de vida, aprendi muito e quando voltei para Marília na década de 1980, eu arrisquei levar as minhas duas artes juntos: a pintura e a alfaiataria”, diz.
O artista fez cursos com o mestre Bráz Alécio e se aprimorou em pintar paisagens e rostos humanos, que é o seu gosto pessoal. “Eu gosto da pintura metafísica, aquela que vai além do que o apreciador da arte está vendo, contudo pintar rostos também é uma grande realização”, afirma o artista que gosta de retratar Jesus Cristo. “É uma fixação”, observa.
É certo que profissões como marceneiro, carpinteiro, arquiteto, jornalista e tantas outras, incluindo a alfaiataria exigem não apenas uma visão do mundo em especial, mas entender de arte para fazer algo que toque, que sensiblize a outra pessoa.
Com o alfaiate/artista Néris, não é diferente. Para produzir uma roupa, uma peça é necessário conhecer o outro, saber quem ele é e buscar nele também uma resposta. Na verdade, para Néris, é quase um trabalho de engenharia.
“Eu preciso fazer uma roupa que esteja de acordo com cada corpo, entendendo o estilo do outro, é engenhoso. Com a pintura é mesma coisa, pois tenho que sentir, imaginar o que o outro quer ver, conhecer meus pensamentos e o que vou pintar naquele espaço de tela”, filosofa.
Cinema e arte
Néris também caminha por outras praias dentro da arte. Foi pintor de painéis de cinema do extinto Cine Peduti durante 12 anos. “Ali eu aprendi bastante coisa, porque tive que saber o que é fazer letra, conhecer o filme e o público que vai assistir. Foi uma grande escola”, relata. Os painéis pintados por Néris já não existem mais, contudo os marilienses que têm mais de 30 anos e frequentaram o Cine Peduti com certeza se recordam das grandes telas pintadas como os filmes do Robocop e Batman. “Foram os trabalhos que eu mais gostei de fazer”, conta.
A arte e a pesquisa são latentes no artista. Além da alfaitaria, da pintura de telas e retratos, Néris gosta também de fazer caricaturas e estava feliz por ter adiquirido um livro de charges. “Acredito que todas as artes têm muito a contribuir para os artistas, sejam eles da área que for”, afirma em meio a uma pasta cheia de recortes que o artista utiliza como referência visual.
Para os que querem conhecer um pouco mais do artista Néris, ele afirma que ano que vem volta a dar aulas de pintura e desenho. Se ele se considera um pintor? “Eu gosto de pintar, de rabiscar. Mas pintores mesmo, de verdade são os outros, Van Gogh, artistas do Renascimento que nas pinturas vão além da imagem. Parece mais do que uma foto o que fazem. Eu só gosto de pintar. Só isso” finaliza, humildemente.

Informações: Néris Alfaiate. Rua XV de novembro, 433 . Telefone: (14) 9121-1972.
matéria feita em dezembro de 2009

D. Cleusa

foto: Éddio Junior

Esperança
As composições e a fé de D. Cleusa
Lídia Basoli


“Venha ver o arco-íris, o inverno enfim, depois de um longo tempo terminou”. Esses versos simples e profundos foram feitos pela compositora Cleusa Maria Pereira , 49 anos, para o filho caçula, Lucas, quando este nasceu.
D. Cleusa compõe desde criança e conseguiu tirar da música a força para viver. “Foi a música que me deu força na vida para continuar a viver”, diz a senhora que ajuda na caridade e vende água de côco pela cidade de Marília.
A senhora de sorriso largo é uma daquelas pessoas cheias de fé e esperança, com um brilho no olhar próprio de quem já sofreu muito, mas que ainda acredita na beleza da vida. “Eu acho que para compor uma música, a gente precisa passar por algumas coisas mais difíceis, porque a poesia também vem do sentimento”, ressaltou.
D. Cleusa veio de Assis há um ano e meio em busca de um sonho. “Eu queria registrar minhas músicas, ter certeza de que o que eu fiz seria meu mesmo”. E deu certo. Chegando aqui, logo começou a servir sopa para os mais necessitados e arrumou um emprego vendendo água de côco. Um dia passou na empresa Darre Moreira Marcas e Patentes e registrou suas músicas na Biblioteca Nacional de Música. “Quando a D. Cleusa chegou aqui, ela tinha consciência do que estava fazendo e queria registrar suas músicas com muita humildade. Eu percebi que era um sonho dela”, afirma Soraia Souza Cardoso, gerente da filial Marília.
E assim foi feito. Músicas evangélicas de autoria de D. Cleusa estão agora registradas. “Para mim essa é mais do que a realização de um sonho, porque em Assis, apesar de eu ter apenas o estudo primário, fiz aula de música na academia com o maestro Evaldo Flores e aprendi a compor e agora as músicas são minhas mesmo”, diz orgulhosa mostrando a partitura da música “Alfa e Ômega”, musicada pelo maestro.
“Essa música eu fiz em um dia de muita conversa com meus filhos e estava muito difícil sabe? Daí eu olhei para o céu e vi a beleza da natureza, o que me deixou muito feliz. Então eu compus a música”, contou sobre a música que ressalta o amor de Jesus.
Infância difícil
Desde quando nasceu as coisas não foram fáceis para D. Cleusa. Filha de uma família muito simples, desde cedo trabalhou com reciclagem de lixo. “A gente estava desde o começo na luta por um mundo melhor e tirávamos nosso sustento do lixo, com muito orgulho”, fala.
A arte parece ser latente porque desde criança a compositora faz poemas para esquecer a tristeza e alegrar a vida, além de homenagear os amigos. “Eu até fiz um poema para o pessoal da coleta seletiva de Assis que diz assim: ‘vamos cuidar dessa terra, aprender a preservar, tirar os lixos dos mares e rios e aprender a reciclar’”, cantarola.
D. Cleusa diz que não tem muita ambição na vida. Ao ser questionada sobre um dia ficar “rica” ela diz; “eu não quero ter muito dinheiro não, só o suficiente para ter uma vida digna, sustentar minha família e viver da música”, fala a senhora cheia de sonhos que já escolheu até a capa do CD se um dia gravar um.
“Será uma águia, a imagem de uma águia descendo na terra porque é a imagem mais falada na bíblia e também porque tem a ver comigo. A águia não se deixa destruir e eu também não. Sou uma guerreira e sei que vou vencer na vida e ajudar as pessoas e minha família com a minha música”, se emociona.
Despede-se com um abraço apertado e um olhar cheio de alegria, o que não falta para D. Cleusa, o que falta mesmo é um patrocínio, uma ajuda. “E eu sei que vou conseguir porque trabalho com muita honestidade e também tenho muita fé”, finalizou.

Contatos: (14) 9688-6136
matéria feita dem dezembro de 2009

Orquestra infantil




fotos: Ana Carolina Menão
Música
Uma orquestra feita de sonhos
Lídia Basoli


A noite de segunda-feira foi diferente para os alunos do Univem: no intervalo das aulas uma orquestra formada por 62 jovens se apresentou no Centro de Convivência da Instituição. Se para os alunos a noite foi diferente, para os jovens músicos foi inesquecível.
A “Orquestra ST Jovem”, formada há um ano, já vem atraindo a atenção de muitas pessoas, não apenas pelo talento com que os músicos conduzem as sinfonias, mas prinicipalmente pela história de vida de cada um que está ali: os sonhos, os desejos e a possibilidades que se mesclam num som feito de encanto e novas perspectivas.
Há cinco anos, o policial Julio Oliveira foi designado para trabalhar em Santa Teresinha, distrito de Lupércio, cidade com pouco mais de mil habitantes. A falta de policiamento e segurança faziam do pequeno vilarejo um lugar sem lei, onde as coisas funcionavam no impulso.
Com uma história digna de roteiro de cinema com direito a um final feliz, Julio enfrentou algumas dificuldades até se adaptar a nova realidade, “eu fui para Santa Teresinha com a minha esposa e minhas duas filhas, o que tornava a cidade ainda mais preocupante para mim”, contou Júlio.
Um dia, ele a esposa, a professora Mariana, estavam ensaiando algumas músicas em casa, o que atraiu a atenção da vizinhança que se aglomerou para ver o “espetáculo”. “Foi interessante porque as pessoas começaram a ter como ponto de referência a minha casa e o que a gente fazia aqui culturalmente”, ressaltou.
A partir daí foi um pulo para que uma ideia de Julio se concretizasse: para ter disciplina e um futuro, nada melhor do que trazer os jovens para a música e formar uma orquestra. Para isso contou com a ajuda da esposa e das filhas que tocam violino.
“A gente começou aqui em casa mesmo, depois fomos ensaiar na escola e hoje já temos até alguns alunos que dão aulas uns para os outros. É a concretização de um sonho”, disse.
Para Mariana é uma satisfação ver as crianças na orquestra, os rostos alegres e a dedicação com que tocam. “Para a gente foi uma grande surpresa e ao mesmo tempo a resposta de que se investirmos nos nossos jovens, teremos como salvar as pessoas e seus futuros”, falou.
A cidade já está sem furto há um ano e os pequenos delitos são resolvidos na base da conversa. “Hoje, além da orquestra, eu ensino defesa pessoal para os homens e mulheres de Santa Teresinha porque eu acredito que estamos nessa vida para fazer algo pelos outros, pelas pessoas e acho que consegui. Temos hoje 62 filhos e um grande projeto”, finalizou o maestro Julio que agora busca um patrocínio.
“Temos o apoio do prefeito de Lupércio, mas com certeza queremos mais e nos tornar cada vez melhores”, afirmou.
Na noite de segunda-feira, a orquestra apresentou músicas para todos os gostos, sempre de forma delicada. Por onde se olhava os alunos do Univem eram vistos cantando junto a orquestra e sorrindo. “É isso que queremos, atingir o coração das pessoas e principalmente o nosso. Tenho certeza que um dia seremos uma grande orquestra”, falou Júlio.
Mas já são grandes. Basta olhar nos olhos de cada uma das crianças, aplaudidas em pé por um bom tempo ao final da apresentação. A orquestra ali tocou sonhos. E com certeza fará cada vez mais.

Informações: julio_mar@itelefonica.com.br
matéria feita em novembro de 2009


Cinema antigo



Comemoração
“Adeus, Mr. Chips” tem relação com a história de Marília
Lídia Basoli

O ano é 1941. Marília começava a viver um período áureo no cinema que se expandia cada vez mais pelo mundo. Nesse ano, a cidade ganhava o “Cine Marília”, local onde hoje é o banco Santander Banespa.
Comemorações, fanfarras e uma sociedade ansiosa esperava o lançamento do mais moderno espaço cinematográfico da cidade. O cinema tinha cerca de duas mil poltronas e o filme exibido foi “Adeus, Mr. Chips”, de 1939, um filme praticamente da “época” que estreava no cinema da cidade. O gerente do cinema era Ezequiel Bambini e as autoridades tinham lugares reservados.
Para relembrar essa passagem, o projeto Cine Cultura exibido na Sala de Projeção da Secretaria de Cultura e Turismo, apresenta hoje o já exibido na década de 1940 “Adeus, Mr. Chips” que completa 70 anos.
A história de Marília passa pela história do cinema, como uma cidade que participou dos maiores festivais de cinema do Brasil, tendo um público cativo e uma história cinematográfica interessantíssima, hoje um tanto quanto abandonada, que deveria ser vista com outros olhos pelos marilienses.
Contudo, projetos como esse do Cine Cultura e o próprio Clube de cinema, há 57 anos com exibições ininterruptas mostram a importância do cinema para a cidade e seu vínculo com a sociedade.
O filme
Baseado no romance de James Hilton, o filme conta a história de um introspectivo diretor inglês, Mr. Chips (Robert Donnat), que dedicou toda sua vida a seus alunos. A história começa no início de sua carreira escolar, tempo em que não consegui ser popular com os estudantes. Ele continua determinado a se tornar diretor da escola, porém é muito fechado em si para tal. Depressivo, ele resolve conhece Katherine Ellis (Green Garson), com quem se casa e se torna uma pessoa mais amigável e afável devido à convivência com a esposa. Mas quando tudo parece estar perfeito, uma tragédia mudará a vida deste grande mestre.
Para a responsável pela programação do Cine Cultura, Márcia Caffer, a exibição é uma boa oportunidade para as pessoas conhecerem um pouco mais da história de Marília e da história do cinema. “Procuramos valorizar os filmes que se encaixam na questão histórica da cidade e ‘Adeus, Mr. Chips’ é um desses filmes que foram gentilmente cedidos pelo cinéfilo mariliense Ilmo Ricci para que pudéssemos ter acesso a esse presente”, ressalta Márcia.
Cinefilia
Ilmo Ricci tem hoje 83 anos e já participou das sessões do Clube de Cinema no lançamento da instituição e também em projetos específicos relacionados ao cinema na cidade.
Para ele, exibir os filmes tem como objetivo levar essa arte para as pessoas, mesmo que em tempos diferentes. “Hoje não sabemos como as pessoas vão encarar esse filme, o que vão achar ao assistir. Mas passei Carlos Gardel a semana passada e tive uma boa recepção. Acho que com Mr. Chips será a mesma coisa”, acredita.
Sr. Ilmo tem mais de 300 filmes em casa e uma grande relíquia: três das cadeiras do antigo Cine Marília que ele conseguiu recuperar. “Um amigo comprou 10 cadeiras depois que o cinema se desfez e eu consegui 3 dessas que estão aqui na minha casa. As pessoas não é entendem, mas é uma questão de relíquia, de história e de preservar também o cinema”, afirma.
E não é só o cinema que interessa a esse amante da sétima arte. “Eu sempre gostei de gibis, de histórias em quadrinhos porque é partir dessa arte que o cinema pode ser também percebido. Eu adorava ver as adaptações dos quadrinhos para o cinema, era uma delícia”, conta.
Exibir as sessões dos clássicos do cinema, no projeto Terça Nostálgica, é, para o Sr. Ilmo também uma espécie de túnel do tempo. “Tem alguns filmes que exibo que as pessoas vêm falar comigo depois, agradecer, com lágrimas nos olhos. Quer coisa melhor?” questiona.
“Adeus, Mr. Chips” hoje no Terça Nostálgica. Imperdível.

Informações: Filme: “Adeus, Mr. Chips” hoje às 20 horas na Sala de Projeção da Secretaria de Cultura e Turismo de Marília. Entrada franca. Av. Sampaio Vidal, 245 - Piso superior da Biblioteca Municipal, entrada pela Avenida Rio Branco. Telefone: 34026600 – ramal 6616
matéria feita em outubro de 2009

Nany People

foto: Alexandre Lourenção

Colcha de risadas
Nany People agita a noite do Chaplin
Lídia Basoli

E de repente ela surge na animada noite de quinta-feira: “Oi gente, só um minutinho, já atendo vocês”. Era Nany People, perfumada e alegre chegando ao restaurante Chaplin para o show da noite. Shows aliás, que estão marcando a noite gastronômica mariliense. “Fazemos esses shows aqui no Chaplin porque o ambiente é bom, temos um espaço interessante e preço acessível. E mais do que isso, queremos trazer o melhor para a noite da cidade de Marília e para os nossos clientes”, diz Lupércio Fernandes, um dos sócios dos restaurantes.
O Chaplin, que já se tornou marca e referência na cidade, já trouxe a Marília humoristas como Renato Tortorelli, Ben Ludmer e agora Nany People. “Buscamos explorar novas possibilidade de entretenimento, fazendo uma noite agradável para os nossos clientes e amigos”, afirma Marcelo Diniz, outro sócio do restaurante e entusiasta de boas novidades.
A ideia de trazer Nany People surgiu do profissionalismo da atriz, da marca e da qualidade com que representa os seus shows. “Quando eu liguei para ela, para entrar em contato, já ficamos amigos na hora, pois a Nany é uma excelente profissional e uma grande pessoa”, ressalta Marcelo.
Simples e verdadeira, Nany People recebeu a todos sentada na praça do restaurante, rindo, conversando e trocando ideias. O show apresentado foi “Nany People: Deu no que Deu” que fez uma plateia lotada dar boas risadas sobre temas tão comuns, mas que não se pensa no dia a dia.
Para Nany, o segredo do sucesso é fazer o que se gosta. “A vida é uma colcha de retalhos, que devemos costurar, bordar e fazer o melhor. Se temos que fazer algo, que façamos bem-feito e para nos divertir”, conta a apresentadora e humorista.
Usando um vestido preto que ressaltava um corpo bonito e um olhar feliz, Nany contou que quem fez a roupa foi um estilista mariliense, Fábio Ferreira. “Quando eu recebi a ligação do Marcelo para vir para Marília fazer o show, o Fábio estava em casa e senti que foi um sinal, porque admiro muito o trabalho desse grande estilista e fiquei amiga na hora do Marcelo”, lembrou a atriz.
Além de um bom humor contagiante, Nany é uma pessoa inteligente, estudada e dedicada ao que faz. Fez extensão universitária de interpretação pela Unicamp, estudou na Escola de Teatro Macunaíma, trabalhou por 10 anos no Teatro Paiol em São Paulo e fez comédias e Stand Ups pelo Brasil.
“O Stand Up é o que eu gosto de fazer porque aqui sou eu, a verdadeira Nany People falando o que penso e sinto do mundo, e não há coisa melhor do que isso”, afirma. Enquanto dá entrevista, fãs se aproximam, pedem fotos autógrafos e beijos. Talvez que na verdade que o que querem mesmo é conversar um pouco com Nany, conhecer melhor a pessoa. “O que me orgulha é que não fiquei presa a algo comum, a um espaço. Eu busquei o que queria e consegui. Sou feliz assim”, diz.
E é mesmo, pois dois minutos perto de Nany People já faz com que você comece a enxergar o mundo de outra maneira, com um olhar mais divertido, porém sério e verdadeiro.
Quando se pensa que não pode ser melhor, o Chaplin, novamente, se supera. O show de Nany foi um (outro) sucesso do melhor restaurante da cidade.
Gastronomia, entretenimento e qualidade. Essa é a marca do Chaplin. “E vamos fazer cada vez mais e melhor”, afirma Marcelo Diniz. Alguém duvida?

Chaplin. Gastronomia e Entretenimento. Avenida República, 129. Telefone: (14) 3413-2411. www.chaplinmarilia.com.br

matéria feita em outubro de 2009

Plínio Marcos


foto: Alexandre Lourenção
Plínio Marcos
Amizade com biógrafo começou em Marília
Lídia Basoli e Ramon Franco


A cidade de Marília tem uma importância história e social para a cultura do país, pois por aqui já passaram grandes nomes da literatura como Osman Lins e do cinema nacional como Glauber Rocha.
Marília abriga também um pedaço primoroso da história do cinema. Foi aqui em 1952 que houve a fundação do primeiro Clube de Cinema do Brasil, prestigiado por atores e diretores de evidência no cenário nacional. Anselmo Duarte, quando ganhou a Palma de Ouro em Cannes pelo filme “O Pagador de Promessas” em 1962 veio comemorar em Marília.
Famosos do cenário histórico já estiveram em Marília e nomes de destaque cultural nasceram aqui como Oswaldo Mendes. Aliás, Mendes, um dos grandes dramaturgos do país, conheceu em Marília o escritor Plínio Marcos em 1968, quando este trouxe, nos tempos áureos da cidade, a apresentação da peça “Dois Perdidos Numa Noite Suja”. A amizade entre os dois se fortaleceu na redação do jornal Última Hora no ano seguinte.
Plínio faleceu em 1999 e era considerado um marginal, um escritor “maldito” por seus pensamentos, reflexões e textos um tanto ácidos e críticos. Agora a vida do dramaturgo é resgatada na obra “Bendito Maldito”, na qual Mendes retrata a biografia do contundente escritor.
Além de amigo de Plínio Marcos, Oswaldo Mendes participou de uma boa parte da história cultural de Marília na qual ele descreve na entrevista abaixo, os fatos curiosos de uma cidade que parece estar fadada ao esquecimento cultural. Até mesmo de seus grandes nomes.


Oswaldo, você ia ao Clube de Cinema de Marília?

Ia muito. Ainda eu era criança, nos anos 50, e o CCM fazia exibições ao ar livre, em terrenos ainda desocupados da Sampaio Vidal. Projetavam na parede do prédio vizinho. Filmes mudos, em geral. Foi ali que assisti pela primeira vez a um filme de Carlitos, o Chaplin. Minha memória é boa, mas não guardou o nome do filme e nem interessa. Interessa a imagem que continua na minha retina, vivíssima, de ver cinema à luz da lua. Depois, ja maiorzinho, eu frequentava as sessões especiais do Clube, sem falar dos festivais de cinema nacional, concorridíssimos. Das piscinas no Yara Clube, abertas para as estrelas, às sessões com estréias nacionais ("Vereda da salvação" de Anselmo Duarte, (veio diretamente do festival de Cannes para Marília), os desfiles dos artistas em charretes na avenida. E tantas histórias, como a briga de Leila Diniz e Maurício do Valle, que destruiram um quarto (na época nao se chamava apartamento) do Hotel Lider, na esquina da 9 de Julho com a São Luis. Nas sessões com programação do Clube aprendi a ver cinema, eduquei o meu olhar.

Uma vez em Marília você detalhou que optou pelo teatro, mesmo que isso significasse uma redução salarial. Detalhe um pouco sobre esta experiência. E hoje, quase duas décadas depois desta guinada, você faria a mesma coisa?

Pra ser honesto, o dinheiro nunca determinou as minhas escolhas profissionais. Claro, em determinado momento precisava de um salário para me segurar. Depois vi que isso me aprisionava. Com tanto desemprego por ai, ter salário não garante nada. O que nos garante é o exercício da nossa vocação. Jamais teria sido feliz como funcionário do Banco do Brasil, emprego que eu recusei depois de ser aprovado num concurso. Nem seria feliz se continuasse na imprensa apenas pela "garantia" do holerite no final do mês. Meu tempo nas redações estava vencido. Portanto, faria sim tudo de novo.

Como você conheceu Plínio Marcos?

Plínio que eu conheci ai em Marília quando ele levou "Dois perdidos numa noite suja" em 1968. No ano seguinte nós nos reencontramos na redação do jornal Última Hora, onde trabalhávamos, e daí seguiu uma amizade pra vida toda. Mais que a história de Plínio, eu pretendo que o livro “Bendito Maldito” sirva, para as gerações atuais e as que virão, como um caminho de compreensão de um período muito rico da vida teatral e política do nosso País. Espero que o leitor ao conhecer Plínio Marcos, uma figura humana exemplar em muitos aspectos, possa conhecer um pouco de si mesmo.

E Marília, quando você volta para se apresentar no teatro e rever os amigos?

Eu nunca saí de Marília. Vocês é que acham que eu moro em São Paulo. Talvez o corpo more. Mas só o corpo. No final do ano devo passar por aí. Quanto a voltar a me apresentar no teatro em Marília, infelizmente não depende só da minha vontade. Por ela estaria sempre nos palcos da cidade. Aguardo que alguém me convide.
matéria feita em outubro de 2009

Barcos





fotos: Alexandre Lourenção
Arte
Artista faz miniaturas de barcos
Lídia Basoli


Jefferson Cortinove é artista plástico e professor e desde criança o que mais lhe encanta são os barcos. “Eu nasci no interior, mas sempre que ia à praia ficava um bom tempo olhando o mar, vendo os barcos. É algo que gosto muito”, diz.
Na década de 1990, Jefferson viu uma exposição de barcos e então resolveu aprender a construir os mesmos em miniaturas. “Eu sou muito detalhista para fazer um trabalho desse tipo, então procurei me especializar e fazer o melhor”, conta.
Cada parte do barco que ia ficando pronta era um desafio. “Em 1999 eu construí um barco com rádio controlado, daqueles que se movem, mas foi em 2003 que realmente fiz um barco em miniatura, pois comprei um manual técnico e segui a risca”, ressalta.
O trabalho leva cerca de 3 meses para ficar pronto, mas exige precisão e cuidado. Jefferson conta que a parte que ele mais gosta é construir o casco. “São pequenas e finas lâminas de madeira, chamadas ripas que devem ser postas e sobrepostas umas às outras. E quando fica pronto, é muito bonito de se ver”, afirma.
Os detalhes dos barcos que Jefferson constrói são impressionantes: vai desde a miniatura de um canhão, até a mesa da cozinha que fica dentro do barco ao fogão à lenha passando pelo sino. “São os detalhes que fazem a diferença”, esclarece.
E fazem mesmo porque a cada olhar, o barco em miniatura traz algo de novo, de diferente e surpreendente. “Desde criança eu gostava de barcos, piratas e filmes que retratassem o mar e as naus, acho que é por isso que deu tão certo para realizar esses projetos em escala menor”.
Jefferson participa de uma competição on line de regatas e é tri-campeão brasileiro na categoria em que compete. “Eu acho extremamente divertido porque conhecemos pessoas de todos os cantos do país além de aprender um pouco mais sobre barcos e navegação”.
Em setembro, Jefferson participou do 5° Encontro Caipira de Vela, o que para o artista também foi uma experiência emocionante. “Eu adorei porque conheci vários tipos de barcos e pessoas que também se interessam pelo assunto”.
O artista tem sete barcos prontos e um em andamento. “Para mim é um prazer construir barcos e ao mesmo tempo, uma forma de encontrar comigo mesmo”, afirma.
Próxima parada: percorrer o mundo de barco. “Seria muito bom mesmo, a realização de um sonho”, afirma.
Informações: www.corti9.com
matéria feita em outubro de 2009



Jazz







fotos: Alexandre Lourenção
Música
Do Jazz ao popular: Trio Curupira inova e agrada
Lídia Basoli

Formação clássica: piano, violão e bateria. Quem vê o Trio Curupira no palco pela primeira vez pode pensar: “só três músicos e três instrumentos?”. Pois, é. Mas que pensou isso, pensou errado.
André Marques, Fábio Gouvêa e Cleber Almeida formam um trio. Mas quando começam a tocar, parecem que tem mais músicos presentes no palco. O Trio Curupira nasceu em 1996 fruto da ideia de três amigos que queriam pesquisar mais sobre a música genuína no Brasil.
E o nome? De onde vem? O nome do grupo foi escolhido por se referir ao personagem mítico do folclore brasileiro encarregado de proteger as florestas e os animais. O trio assumiu uma missão semelhante: a defesa da música e da cultura brasileira.
No palco, em todos os cantos há instrumentos: rabecas, pandeiros, tambourins, flautas e muito som. Os músicos já fizeram apresentações com Jane Duboc, Paulo Amorim e faziam parte do seleto grupo de Hermeto Pascoal. Os três dão aulas de música no Conservatório Dramático e Musical de Tatuí.
“Nós gostamos de música, de ouvir música, brincar com os sons, a harmonia. No nosso trio, não cabe o preconceito”, diz Cléber Almeida. Por isso se ouve de tudo um pouco quando o Trio Curupira começa a tocar.
O CD “Pés no Brasil, Cabeça no Mundo”, que recebeu a indicação ao Grammy Latino 2008, mostrou músicos talentosos e empolgados. André no piano, Fábio no violão, guitarra e flauta e Cléber na bateria.
A turnê de apresentação do CD incluiu a Argentina, onde os músicos se apresentaram e fizerem sucesso. Diferente do Brasil? “Um tanto”, constata André, “não que lá seja melhor, mas aqui as coisas têm outro ritmo e pouco incentivo”.
“Pés no Brasil, Cabeça no Mundo” é o terceiro CD do Trio lançado em 2007 que já lançou também “Curupira” em 2001, o primeiro com a participação de Hermeto Pascoal e Desinventado em 2003.
Durante a apresentação no Sesi CAT Lázaro Ramos Novaes na semana passada, houve uma mistura de vários sons, ritmos e músicas. Tanto próprias quanto de outros autores. Tocaram Fio de Luz de autoria de Fábio Gouvêa, Tito que André fez para o filho e fizeram novos acordes para “Samba de uma nota só” de Tom Jobin. Além é claro de uma moda de viola, de Carreirinho, avô de André e Assum Preto.
O que se pôde ver foi um espetáculo. Colorido musicalmente.
Para adquirir o CD e conhecer mais do trio acesse: www.triocurupira.com.br

matéria feita em agosto de 2009

Aloísio Silva




fotos: Alexandre Lourenção
Modelando talentos
Aloísio Silva expõe os trabalhos realizados na Oficina Cultural
Lídia Basoli


Escultura, pintura e modelagem. O artista plástico Aloísio Silva se envereda pelas artes, assim como quem anda calmamente. Dono de um sorriso fácil, Aloísio conta que sempre gostou de pintar, mas que só em 1971 começou a realizar o sonho.
“Eu fiz um curso de pintura com Braz Alécio e de escultura com o Rochap e de lá para cá não parei mais”, conta.
Aloísio ministrou oficinas de modelagem em argila no projeto Tarsila do Amaral e agora está com exposição aberta à visitação no Centro Cultural Brasil Estados Unidos de Marília. “Ver uma exposição pronta com os trabalhos dos alunos é gratificante. Não há o que pague”, afirma o artista que diz também que qualquer um pode fazer arte. “Basta querer”.
Na exposição, há figuras abstratas, personagens fictícios, bem como formas naturais de animais e outros objetos do cotidiano. “Buscamos com a proposta, oferecer técnicas de manuseio e modelagem em argila, difundindo a valorização de mais uma linguagem artística e despertando o interesse pela arte da modelagem e escultura”, explicou Milena Deganuti de Mello, coordenadora da Oficina Regional.
Pinturas temporais
Ao fazer o curso com Braz Alécio, Aloísio Silva escolheu seguir o caminho da arte primitivista, ou arte naif, a mesma seguida por um dos artistas que ele mais admira, o Ranchinho de Assis.
“Acho o Ranchinho uma figura fantástica, conhecida internacionalmente e trouxe para nós uma referência nova na forma de pintar”, fala.
Aloísio dedicou-se à pintura acadêmica, passou pelo moderno, abstrato e por fim, priorizou dedicar-se ao primitivismo ou arte Naif. Expôs trabalhos na Holanda e no Japão, tendo ainda recebido convites para outras exposições de sua obra no exterior.
Em casa, Aloísio tem um pequeno ateliê onde ele faz suas obras e dá oficinas. “Aqui eu pinto o que eu quiser e também faço esculturas. A arte nesse espaço se mistura”, diz rindo ao mostrar que ali tinha quadros que ele ainda não expôs, desenhos e pinturas de alunos e esculturas.
O lugar é pequeno, mas a arte de Aloísio não. Os temas dos trabalhos são bem atuais com o quadro “Pandemia” onde ele dá vida à gripe suína e ao pânico que assola o país. No outro quadro “Onde estão as crianças?”, Aloísio mostra o parque vazio e as crianças na Lan House. E tem também “Os males do nosso tempo”, um quadro duplo que conta a história do que estamos fazendo com o mundo hoje.
Um detalhe curioso é que a maioria dos quadros possui balões de fala, tal qual as histórias em quadrinhos. Um recurso que Aloísio achou para ser mais temporal ainda. “Eu gosto de retratar o que está acontecendo no mundo hoje, isso é importante para a arte”, ressalta.
Ele mostra as pastas com os lugares onde já expôs que inclui uma mostra na Alemanha, na Bienal e no Sesc Piracicaba. “Eu fui ao Sesc e fiquei de queixo caído com tantos artistas de renome e tão maravilhosa exposição. O incentivo é importante nessa área”, afirma o artista pouco conhecido em Marília.
A Revista História Viva, da Duetto Editorial destaca a obra de artista mariliense Aloísio Dias da Silva, “Festa Junina” em óleo sobre tela, 2006, ilustrando matéria com tema “Festa Brasileira é Lusa, Indígena e Negra”.
Suas obras já viajaram o mundo e o nome de Aloísio está em catálogos em várias partes do país. “Isso é bom porque assim ficamos reconhecidos e temos mais força para continuar a pintar”.
O apoio da mulher e dos filhos também foi fundamental para que o artista vivesse da arte e tivesse assim um espaço melhor e maior para crescer. Aloísio Silva fala três línguas e foi o destaque do catálogo das Oficinas Culturais de 2008. “O artista tem que pintar tudo, tem que se dedicar mesmo”, afirma.
Despede-se dizendo, “venham fazer minhas aulas, garanto que não vão se arrepender. Todo mundo tem um artista dentro de si, só temos que trabalhar ele”.
E nada melhor do que um grande artista para descobrir os artistas que homens têm dentro de si. Aloísio Silva é arte.
matéria feita em agosto de 2009.

Escolas de circo





fotos: Édio Junior
Circo
Escolas de circo movimentam Marília
Lídia Basoli


Marília apresenta algumas novidades no cenário cultural como os projetos de escolas e oficinas de circo. A arte milenar que conquistou gerações e algumas vezes foi vista com maus olhos, hoje está presente na cidade e é cada vez mais procurada.
No shopping Esmeralda, o mês de julho trouxe o Circo Escola Anima que fez mais do que sucesso, conquistou o público com os espetáculos, as oficinas e os caprichos que iam desde a maquiagem até as roupas. Crianças de todas as idades participaram das apresentações.
A bibliotecária Jurema Moreira Citeli, de 55 anos, mora em Adamantina e estava passando as férias em Marília levou os filhos gêmeos, Enrico e Maria Vitória, de 11 anos para participar das apresentações e oficinas. Se eles gostaram?
“Eu adoro o circo e já faço escola de circo em Adamantina, vir aqui para mim é muito gostoso”, disse um empolgada Enrico enquanto equilibrava os pratos em uma vareta.
Jurema concorda com o filho e ressalta a importância da prática e da valorização do circo. “O meu pai era artista, também fez circo e acho importante eles conhecerem essa arte, valorizarem algo tão cultural”, afirmou.
A responsável por “cometer” toda essa alegria para a criançada é a arte-educadora Deise Nuevo, ou melhor, a “Berinjela”. Estava caracterizada com girassóis e uma maquiagem que lembrava uma boneca-palhaça. Deise conversou sobre a ideia do circo e o tanto que participar de tudo isso lhe fazia bem. E enquanto dava a entrevista ganhou beijos, cumprimentos de todos os lados e um desenho de uma das crianças que participou das oficinas. “Tem coisa melhor?”, perguntou.
Em 1995, Deise ministrou a primeira oficina de circo da cidade no Espaço Cultural e de lá pra cá não parou mais. “Eu acho que o circo, a arte circense é uma forma de edução. Trabalho na ONG Cáritas e tenho lá o Projeto Barracão onde desenvolvi a ‘Cia de Circo Lona e Arte’ e disso surgiu o ‘Circo Escola Anima’”, destacou.
O Circo Escola Anima se apresenta hoje a partir das 18h30 no Shopping Esmeralda. A entrada é gratuita. E os sorrisos são de graça.
Oficinas Circenses
O mês de julho também trouxe diversão e exercícios circenses em outra parte da cidade. No Espaço Cultural, Patrícia Paz desenvolveu uma oficina de circo para crianças e adultos.
As crianças fizeram números de tecido, corda, equilíbrio e contorcionismo. Adoravam mostrar que sabiam o que estavam fazendo a toda hora diziam: “Professora, deixa eu fazer?”
Argentina de nascimento e mariliense de coração, Patrícia mostrou que o circo pode ser mais do que animais, sustos e brincadeiras. O circo, para ela, é para ser levado a sério. Durante as oficinas, Patrícia incentivava, um a um dos alunos, a vencer os medos e ficar de ponta cabeça no tecido, na lira e na parede.
“O circo é minha grande paixão, meu filho também. Magia é truque, mas a verdadeira magia do circo é o circo em si”, relatou.
O circo tem muito a oferecer. Benefícios extras para o corpo, a alma e o coração.
A psicóloga Luana Moro explica que a arte circense ajuda na auto-estima e na afirmação pessoal. “As atividades ajudam a superar desafios, além de deixar a pessoa mais próxima de si e do outro. É aí que a pessoa se abre para o mundo e para si mesma”, disse.
E os benefícios para o corpo também são muitos, pois de acordo com Lívia Muller, formada em Educação Física, “preparar um número exige habilidade, força e equilíbrio e isso faz com que conheçamos melhor o nosso corpo e melhoremos o nosso condicionamento físico, o que é importantíssimo”, afirmou.
E quem disse que família toda não foi ao circo? O marido de Patrícia, Elton e os filhos Luís de 8 anos e Daniela de 4 meses estão sempre juntos. Luís faz escola de circo desde que nasceu, Elton “voa” entre um trapézio e outro e Daniela, 4meses, é puro encanto.
O circo, realmente, é mágico.
Informações:
Circo Escola Anima: deisenuevo@yahoo.com.br (14) 9769 1500. Patrícia Paz: (14) 8122 5272

matéria feita em agosto de 2009.

O filho do Jeca


*fotos: Alexandre Lourenção

Cinema
O filho do Jeca
André Luiz Mazzaropi esteve em Marília durante a Conferência de Cultura
Lídia Basoli


O nome: André Luiz. Tudo bem até aí. Mas o sobrenome entrega a história do André. André Luiz Mazzaropi. Sim, o filho do Jeca.
André nasceu em Taubaté em 1952. Entre os cinco filhos adotivos de Amâncio Mazzaropi, José Batista, Péricles, Pedro e Carlos, André foi o único que seguiu a veia artística do pai.
Aos 11 anos conheceu Mazzaropi quando este filmava em Taubaté “No Paraíso das Solteironas”. De lá pra cá, nunca mais deixou de acompanhar o “pai” e de admirá-lo.
Participou dos filmes “Um fofoqueiro no céu” e “Jeca e seu filho Preto” e acompanhou Mazzaropi pelos grandes festivais do pais. E tem algumas lembranças da cidade de Marília.
“Eu me lembro de Maríia quando vim aqui com o meu pai há muito tempo atrás. Das cores, do Festival da entrega do Prêmio Curumim, era emocionante”, recorda.
André Luís esteve em Marília novamente participando do Fórum dos Dirigentes Culturais no final de semana passado. Estava sentado conversando com todos que o reconheciam ou que queriam saber um pouco mais do filho do Jeca, e do próprio Jeca.
André tem uma fala calma ao contar as histórias do Mazzaropi e suas próprias também, e assim como todos os artistas está em busca de melhores condições de trabalho para a cultura do país. “Faz 28 anos que me apresento como o “Filho do Jeca” e com a apresentação em Maracaí há duas semanas, somam-se 1524 espetáculos”, conta orgulhoso.
Qual o segredo das apresentações durarem tanto? “É falar a língua do povo. Esse amor que eles têm pela história do meu pai é que me move”, disse.
André passa pelas cidades apresentando o projeto “Tem um Jeca na Cidade” e “Mostra de Cinema Mazzaropi”. O show é um monólogo cômico e musical apresentado por André adaptado do texto original de Mazzaropi.
Diz que adora se vestir de Jeca e que a sua formação de vida se deve ao Mazzaropi. “Ele me pegou pelas mãos e me transformou no homem que eu sou. Eu venho buscando ações políticas e culturais para preservar a história do meu pai”, diz emocionado.
Despede-se com um abraço e um pedido: “Vamos fazer o show do ‘Filho do Jeca’ em Marília?”
E por que não?
matéria feita em julho de 2009.

Andar com fé eu vou


*fotos: Alexandre Lourenção

Destino
Andar com fé eu vou
Há 12 anos romeiro viaja de bicicleta pelas Américas levando testemunho às igrejas

Lídia Basoli

José Ferreira da Silva. O nome é simples, mas os sonhos são grandes. Um nome como outro qualquer, mas um desejo muito diferente.
Nascido na Bahia e criado em Fortaleza, José Ferreira da Silva está, há 12 anos, cumprindo uma promessa: viajar o mundo em uma bicicleta para alcançar a graça que teve.
Em 1985, o pai de José sofreu um acidente e parou de andar. Depois disso, uma promessa foi feita. “Eu prometi a Nossa Senhora que se meu pai voltasse a andar eu viajaria toda a América de bicicleta”. E eis que 1997, o pai de José levanta e caminha pela casa.
“Foi um milagre, uma benção meu pai voltar a andar, por isso, peguei a minha bicicleta e parti rumo ao mundo para agradecer a graça recebida. Faltam ainda 5 anos para que a promessa seja cumprida, mas eu vou chegar lá”, diz.
José tem 56 anos e já percorreu toda a América. Veja bem, América do Norte, Central e do Sul. Esteve em vários lugares e conheceu personagens incríveis nessas andanças.
O primeiro jornalista que o entrevistou, contou orgulhoso, foi Cid Moreira em 1985, quando José fez a promessa. De lá para cá já apareceu em vários canais e programas de televisão. Sempre com uma fé inabalável.
“Eu sempre tive muita fé em Nosso Senhor, então passo de cidade em cidade, país em país pregando a palavra de Deus e contando o milagre que aconteceu com meu pai”, enfatiza o “Peregrino Missinonário da Paz”.
Histórias curisosas foram acontecendo ao longo da viagem com José. Fatos que ele nunca vai esquecer.
Encontros
Em uma das suas passagens, enquanto ia a Curitiba, José foi abordado na estrada por dois homens que já o tinham visto na televisão. Recebeu uma boa quantidade em dinheiro para ajuda e agradeceu, pois como relatou, manter a bicicleta equipada custa um tanto.
Contudo, logo ficou sabendo que os homens que lhe ajudaram eram bandidos que estavam fugindo e acabaram morrendo em um tiroteio.
“Dá para imaginar algo assim? Deus tem os seus propósitos na vida, achei que seria pecado ficar com o dinheiro depois que fiquei sabendo quem eram, mas eu não sabia que eram fugitivos e o dinheiro veio em boa hora. Todos têm sua missão a cumprir”, afirmou o peregrino.
Nessas aventuras pela vida, José aprendeu a falar três idiomas e foi recebido e diplomado como cidadão honorário em vários lugares em que esteve. “Para mim valeu à pena até agora. Tenho aprendido muito nessa minha viagem comigo mesmo e com as pessoas pelo mundo afora”, relembra.
José não tem filhos e nem família. Chegou à Marília no começo de julho e fica até amanhã. Questionado se se sentia um herói por levar fé às pessoas que ele nem conhecia, José responde; “olha, eu não sei se sou um herói, ainda tenho muito a melhorar como ser humano, mas acho que para o meu pai eu sou um herói sim”, destacou.
E é isso que importa. José pretende ir para a Europa ainda esse ano e fazer um livro com os relatos dessa viagem que, como diz José, “se Deus quiser, irá durar 17 anos”.
E é claro, também pretende reencontrar o pai em Fortaleza em 2014. “É o que mais quero na vida”, diz emocionado.
Na garupa da bicicleta a bandeira do Brasil, do nordeste, uma caixa com o cobertor, as honrarias, a barraca e a fé de José. “É aqui que eu levo tudo”, reflete.
E leva mesmo.
matéria feita em julho de 2009.