segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Plínio Marcos


foto: Alexandre Lourenção
Plínio Marcos
Amizade com biógrafo começou em Marília
Lídia Basoli e Ramon Franco


A cidade de Marília tem uma importância história e social para a cultura do país, pois por aqui já passaram grandes nomes da literatura como Osman Lins e do cinema nacional como Glauber Rocha.
Marília abriga também um pedaço primoroso da história do cinema. Foi aqui em 1952 que houve a fundação do primeiro Clube de Cinema do Brasil, prestigiado por atores e diretores de evidência no cenário nacional. Anselmo Duarte, quando ganhou a Palma de Ouro em Cannes pelo filme “O Pagador de Promessas” em 1962 veio comemorar em Marília.
Famosos do cenário histórico já estiveram em Marília e nomes de destaque cultural nasceram aqui como Oswaldo Mendes. Aliás, Mendes, um dos grandes dramaturgos do país, conheceu em Marília o escritor Plínio Marcos em 1968, quando este trouxe, nos tempos áureos da cidade, a apresentação da peça “Dois Perdidos Numa Noite Suja”. A amizade entre os dois se fortaleceu na redação do jornal Última Hora no ano seguinte.
Plínio faleceu em 1999 e era considerado um marginal, um escritor “maldito” por seus pensamentos, reflexões e textos um tanto ácidos e críticos. Agora a vida do dramaturgo é resgatada na obra “Bendito Maldito”, na qual Mendes retrata a biografia do contundente escritor.
Além de amigo de Plínio Marcos, Oswaldo Mendes participou de uma boa parte da história cultural de Marília na qual ele descreve na entrevista abaixo, os fatos curiosos de uma cidade que parece estar fadada ao esquecimento cultural. Até mesmo de seus grandes nomes.


Oswaldo, você ia ao Clube de Cinema de Marília?

Ia muito. Ainda eu era criança, nos anos 50, e o CCM fazia exibições ao ar livre, em terrenos ainda desocupados da Sampaio Vidal. Projetavam na parede do prédio vizinho. Filmes mudos, em geral. Foi ali que assisti pela primeira vez a um filme de Carlitos, o Chaplin. Minha memória é boa, mas não guardou o nome do filme e nem interessa. Interessa a imagem que continua na minha retina, vivíssima, de ver cinema à luz da lua. Depois, ja maiorzinho, eu frequentava as sessões especiais do Clube, sem falar dos festivais de cinema nacional, concorridíssimos. Das piscinas no Yara Clube, abertas para as estrelas, às sessões com estréias nacionais ("Vereda da salvação" de Anselmo Duarte, (veio diretamente do festival de Cannes para Marília), os desfiles dos artistas em charretes na avenida. E tantas histórias, como a briga de Leila Diniz e Maurício do Valle, que destruiram um quarto (na época nao se chamava apartamento) do Hotel Lider, na esquina da 9 de Julho com a São Luis. Nas sessões com programação do Clube aprendi a ver cinema, eduquei o meu olhar.

Uma vez em Marília você detalhou que optou pelo teatro, mesmo que isso significasse uma redução salarial. Detalhe um pouco sobre esta experiência. E hoje, quase duas décadas depois desta guinada, você faria a mesma coisa?

Pra ser honesto, o dinheiro nunca determinou as minhas escolhas profissionais. Claro, em determinado momento precisava de um salário para me segurar. Depois vi que isso me aprisionava. Com tanto desemprego por ai, ter salário não garante nada. O que nos garante é o exercício da nossa vocação. Jamais teria sido feliz como funcionário do Banco do Brasil, emprego que eu recusei depois de ser aprovado num concurso. Nem seria feliz se continuasse na imprensa apenas pela "garantia" do holerite no final do mês. Meu tempo nas redações estava vencido. Portanto, faria sim tudo de novo.

Como você conheceu Plínio Marcos?

Plínio que eu conheci ai em Marília quando ele levou "Dois perdidos numa noite suja" em 1968. No ano seguinte nós nos reencontramos na redação do jornal Última Hora, onde trabalhávamos, e daí seguiu uma amizade pra vida toda. Mais que a história de Plínio, eu pretendo que o livro “Bendito Maldito” sirva, para as gerações atuais e as que virão, como um caminho de compreensão de um período muito rico da vida teatral e política do nosso País. Espero que o leitor ao conhecer Plínio Marcos, uma figura humana exemplar em muitos aspectos, possa conhecer um pouco de si mesmo.

E Marília, quando você volta para se apresentar no teatro e rever os amigos?

Eu nunca saí de Marília. Vocês é que acham que eu moro em São Paulo. Talvez o corpo more. Mas só o corpo. No final do ano devo passar por aí. Quanto a voltar a me apresentar no teatro em Marília, infelizmente não depende só da minha vontade. Por ela estaria sempre nos palcos da cidade. Aguardo que alguém me convide.
matéria feita em outubro de 2009

Um comentário:

  1. Fico feliz pelo o seu interesse cultural e pela
    belíssima reportagem de um cidadão do mundo que
    ainda mantém o seu amor com as suas raízes.

    Luis Antonio Rossetto

    http://luisantoniorossettodeoliveirapoesia.blogspot.com/2009/09/chico-mendes.html

    http://books.google.com/books?id=YuRRtDqO6gAC&printsec=frontcover&dq=a+rosa+do+fim+do+mundo&cd=1#v=onepage&q=&f=false

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